domingo, 17 de junho de 2012

Erika Palomino

Alguns dias atrás escrevi um post chamado Preâmbulo, o argumento simplificado era que a internet ao permitir que qualquer um emitisse opinião acabou formando um séquito de seguidores em torno de alguma “celebridade”. Nada a ver com o seguidores de Restart, Luan Santana e congêneres. O lance é mais sério, ou não. 

Trata-se de alguém de dentro de algum meio específico que com a internet sente-se a vontade para desancar quem quer seja, inclusive seus colegas, particularmente, seus desafetos. Mas não se trata apenas de ressentimento, em alguns casos são ditas verdades incômodas.

O Luís Nassif fez isso com a Veja. O Diogo Mainardi fez isso muito com seus supostos colegas jornalistas. O Reinaldo Azevedo vive de fazer isso. A lista é grande e mistura gente honesta com canastrões. Bem, mas voltando ao post, ele era ilustrado com uma troca de mensagens pelo Twitter entre @GAYEGOS e um dos seus seguidores, havia ali um deslumbramento do último pela editora de moda @ErikaPalomino e uma crítica implícita a esse deslumbre por parte do estilista e jornalista de moda.

Entendo nada de moda, mas sou leitor da chamada “grande imprensa” desde adolescente, bem ou mal, quem começa a ler assim cedinho acaba se tornando admirador daquelas pessoas que o faz abrir a cabeça para coisas e pessoas que poderiam passar desapercebidas. Isso comigo foi particularmente verdadeiro na minha relação com o Daniel Piza. Alguns anos depois, essa admiração pode se perder no tempo, afinal a gente evolui, alguns, pelo menos. Novas figuras aparecem desbancando os “ídolos” do passado.  


Mas estou desviando do assunto, como sempre. Eu quero falar da Erika Palomino. Sou um entre muitos dos seus entusiastas. Tornei-me leitor da Erika ainda na Folha com sua Noite Ilustrada, arquivei várias, achava incrível que alguém se propusesse a usar aquele linguajar da noite, dos gays, da moda, pra mim aquilo era ousadia, os personagens da noite ganhariam seu espaço ali; lembro dos cadernos especiais quando a Erika ia assistir todos os desfiles da temporada internacional, também guardei alguns; a revista de Moda da Folha, enfim, acho que li muita coisa dessa temporada.  





Mas Erika não era exclusivamente uma colunista de moda, tanto é que seu primeiro livro é muito mais uma síntese de comportamento do que um apanhado geral sobre a moda brasileira no período em que trabalhou na Folha. Mas como escreveria o Alcino Leite Neto, numa proporção mais ampla era a reprodução do estilo de sua coluna. Não à toa sua coluna acabou virando prêmio.



 


Depois a Erika lançou seu próprio site continue seguindo e como muitos me animava com os fervos do Podcast, tenho vários gravados, eram divertidíssimas as conversar entre Sérgio Amaral, André do Val, Ju Andrade, Marcelona, a própria dona do site e algumas participações especiais como da Marina Lima, Nelba Cardorso e, claro, o vizinho misterioso. Nessa época teve ainda a revista KEY e alguns edições da JÚNIOR que foram produzidas pelo selo “House of Palomino”. Antes de se tornar editora da versão brasileira da @lofficielbrasil, seu posto atual, Erika ainda passou pelo IG, FFW, Melissa, editou o jornal oficial da SPFW e, atualmente, continua comentando a temporada na cobertura oficial do evento.




 
Erika parece ser uma pessoa que não gosta de oba oba, provavelmente por ser workaholic. Parece saber que, como eu, tem muitos outros que, de uma maneira de outra, embarcam no seus projetos. Parece que ela não gosta da ideia de ter fãs, deve preferir ter leitores. Parece ser exigente com seus subordinados, ainda que, ao mesmo tempo, demonstre lhes oferecer bastante liberdade. Parece que muitos dos jornalistas de moda, os pós Erika Palomino, passaram por sua mão antes de alçarem novos voos.   

Mas, sem dúvida, a Erika foi a última grande crítica de moda que surgiu no últimos tempos, depois dela não teve mais ninguém que tenha crescido tanto, que tenha tido a influência que ela teve. Do ponto de vista da moda isso pretensamente seria bom porque supõem que a existência de uma super editora tiraria o foco sobre a moda em si ou, mais precisamente, das coleções. Ah, controvérsias ao lembrarmos de nome como Décio de Almeida Prado ou Clement Greenberg para ficar em dois exemplos. Sem forçar comparações, tá?  


Conforme escreveu Haley Phelan e algum estilista já tinha dito o mesmo em algum lugar: os desfiles só podiam começar depois que a Erika estivesse acomodada na fila A. Isso porque ela era, naquele momento, a grande autoridade de moda no Brasil. Se a estrela da jornalista apagou um pouco como diz a blogueira americana, isso não quer dizer que Erika não tenha sido, mesmo nos seus tempos áureos, chocada, inclusive na própria Folha.  

Adriano Cintra, ex-CSS tinha um blog (A Diaba veste Fause) bem amador mas divertido que chochava própria linguagem da Erika. Ah, isso depois do sucesso né porque antes a “Erika foi foda” ao impulsionar a carreira da banda.  



Carlos Miele também mandou gongou a Erika e não apenas ela em entrevista à revista VejaSP, entre outras coisas afirmaria: O problema são três jornalistas que costumam fazer críticas descabidas ao meu trabalho: Erika Palomino, Lilian Pacce e Regina Guerreiro. Elas lutam por uma reserva de mercado e qualquer um que tente trazer novidades a um mundo colonizado como o da moda paulistana fica malvisto...Elas não têm capacidade de me entender. Meu trabalho é internacional com raízes brasileiras, e o delas é nacional com raízes internacionais. Para começar, elas não se vestem como brasileiras. Erika Palomino era interessante enquanto foi clubber. Agora, quer vestir-se como europeia, pintou o cabelo de loiro, deixou ele lisinho e perdeu muito sua personalidade. Em pleno verão, Regina Guerreiro e Lilian Pacce andam de gola alta, vestidas de preto, encapotadas, sempre fazendo tipo de editora de moda europeia...Picasso levou trinta anos para pintar como uma criança. Elas me criticam, na verdade, porque eu vou buscar referências em minhas raízes, no candomblé, nos índios, enfim, nos excluídos...elas são sempre convidadas para se sentar nos melhores lugares em meus desfiles. Só que elas não têm olhar para o novo. Regina Guerreiro disse que eu era uma piada fashion, criticou-me por fazer muitos brilhos e plumas, que depois subiram nas passarelas do mundo inteiro. Críticos mais inteligentes que ela falaram que Duchamp não fazia arte, que Jorge Amado era medíocre. Não é ela quem vai me dizer o que fazer. Lilian Pacce escreveu que eu deveria vender só camiseta e jeans, porque não faço moda. Agora, meus vestidos estão nas melhores lojas do mundo"

O Álvaro Pereira Júnior, que também era um grande interlocutor meu com sua coluna no FolhaTeen escreveria sobre o livro que aborda os 50 anos da Ilustrada que "Por fim, o livro aborda como processo contínuo algo que, a meu ver, representou na verdade uma forte ruptura. O relaxamento da atitude essencialmente crítica, representada por gente como Pepe e Forastieri, para, a partir dos anos 1990 de Érika Palomino, abraçar também um tipo de jornalismo amigo e "construtivo", participante de cena que cobre, ao menos na área pop”.

Parece que essa opinião era compartilhada pela própria direção do jornal pois em entrevista para o site da MTV, Alcino Leite Neto, que foi convidado para ocupar a vaga de editor de moda após a saída de Erika, afirma que uma das coisas que pesou para aceitar o convite foi o fato de que a "Folha" queria mudar o rumo da cobertura de moda, tornando-a mais jornalística”

Mas o próprio Álvaro Pereira Jr. chamaria atenção para importância da Erika na cena em uma de suas colunas: Leio uma entrevista com a colunista da Folha Erika Palomino. Indagada sobre o que acha da explosão da moda brasileira, ela responde, com sobriedade, que a moda do Brasil passou por um desenvolvimento sem precedentes nos últimos anos, mas que ainda falta muito para que tenha projeção internacional. Conclusão. Seria fácil para a Erika dizer que a moda brasileira é o máximo, que mais uma vez o mundo se curva diante do Brasil etc. etc. etc. Afinal, foi ela a primeira jornalista do país a lançar jovens estilistas e a perceber que havia interconexões importantes entre a moda que nascia e toda uma cena musical, a eletrônica. Mas, na tal entrevista, Erika preferiu o caminho da lucidez: reconheceu o talento local, ressalvando que ainda faltam anos-luz para que São Paulo possa ser comparada a Paris, Nova York ou Milão”. 

Por que escreve tudo isso? Porque essa semana terminou a SPFW e a Erika Palomino estava lá cobrindo o evento, oficialmente na cobertura do portal FFW e para sua revista L'Officiel. E porque seria forçar a barra negar a participação da Erika Palomino na consolidação do atual calendário de moda brasileiro.