quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sem relativismo

A falta de tempo que transparece aqui também causa mudanças de hábitos. Cultivo, desde a adolescência, o hábito de ler jornal. Mas, nos últimos tempos, leio as manchetes e vou direto ao que mais me interessa. Ontem, porém, deu pra ler um pouco mais e para entrar em contato com a ideia de que o mundo é um terror.

Já disse aqui que me incomoda ver pessoas serem assassinadas apenas pelo fato de serem gays mas o fundamental, pra mim, é o horror de alguém vestir-se do direito de tirar a vida de outro, seja gay ou não. A vida humana, creio nisso, é um direito fundamental, inegociável. O pior é que em alguns países tirar a vida é uma instituição do Estado. Pois bem.

NOTÍCIA 1: Lá na China, a segunda maior economia do mundo, uma mulher teria sido condenada a pena de morte justamente por ser ré confessa do assassinato de um cidadão inglês. A aplicação da pena foi suspensa. Pra que? Segundo a Folha de São Paulo, a decisão levou a "uma enxurrada de críticas nos populares microblogs do país". Ainda segundo o jornal, eis o teor de uma dessas críticas:

"Um assassinato cometido seguindo um plano meticuloso e, no final, uma pena de morte suspensa? Que maravilhosa é a vida, que útil a lei pode ser, sempre que você tiver o partido para proteger você", escreveu o popular blogueiro Yao Bo"

De fato, a China é o país que mais aplica pena de morte no mundo. E existe a suspeita que o julgamento teria sido viciado, ou seja, a suspensão se deu muito mais por motivos escusos do que qualquer sentimento de generosidade das autoridades chinesas. Mas, ainda assim, ao meus olhos tomou-se a melhor decisão. Estarrecedor é alguém considerar que a melhor opção é aplicar a lei. Pra mim, a melhor opção seria mudar a lei. 

NOTÍCIA 2: No Paquistão, uma menina de 11 ou 16 anos teria sido presa por queimar páginas e jogar no lixo o livro sagrado dos muçulmanos, o Corão. Segundo a notícia da Folha, a prisão teria ocorrido "depois que uma "multidão" furiosa" teria ordenado que ela fosse punida por "blasfêmia". Os pais da memina teriam recebidos ameaças e sua casa fora cercada por vizinhos. Outras famílias cristãs também teriam deixado o bairro com medo de retaliações. A mesma lei da blasfêmia levou a morte do ministro das minorias que defendera o fim da mesma.

Pra mim, não há defesa do relativismo cultural que me convença que essas convenções sociais não são primitivas.

Obs.: ao entrar no UOL, hoje, a manchete anuncia: "Russomano diz que gostaria de ver uma igreja por quarteirão". Candidato a prefeito ou missionário cristão?