É, Chico Buarque está completando 68 anos. Embora admirador de suas
composições, o Chico homem nunca esteve em qualquer uma das minhas
fantasias. Não poderia. Ao ver suas primeiras imagens representavam
pra mim apenas um jovem senhor: respeitável, talentoso,
razoavelmente inteligente, nada mais do que isso. Enfim, um sujeito
apenas para ser respeitado e não desejado. Devo admitir que nessa
conta pesava, e muito, o fator idade. Eu, um jovem adolescente, não
sentiria tesão por um senhor que já passara dos 50.
E assim foi por muito tempo. A minha vida amorosa e/ou sexual raras
vezes teve a participação de alguém absolutamente mais velho. Na
verdade, com mais idade do que eu, mesmo um ou dois anos mais velhos
foram pouquíssimos. Pelo contrário. No meu relacionamento mais
sério a diferença era de sete anos mas, no caso, eu era o ancião
da relação.
Mas tenho notado que essa preferência tem se alterado, ainda que
discretamente. Antes eu nem abria possibilidade, agora percebo que
estou mais aberto a esse tipo de situação. A última vez que saí
fiquei com alguém, ele tinha exatamente dez anos a mais do que eu.
Teria a meu favor o fato de que o sujeito nem de longe parecia ser
tão mais velho. Até surgir esse fatídico assunto, imaginava-o na
mesma faixa.
Por que estou falando disso? Porque sinto hoje os primeiros sinais do
amadurecimento, não me sinto mal “espiritualmente”. Me sinto uma
pessoa melhor, mais interessante e mais bonita do que há dez anos
trás mas percebo que esse “envelhecer” envolve também a minha
relação com o corpo. Penso, por exemplo, se vou me tornar um “urso”
nível leve, sem a ideologia (tem alguma?) mas com as
características. Agora os sinais do tempo preocupam-me no corpo e no
rosto. Não que antes não houvesse, mas antes era ser mais
desejável, agora é pra não parecer velho. Parece a mesma coisa mas
há uma sutileza aí.
E o sexo? Ah, o sexo, ele agora parece exigir mais do que tesão.
Ficar e ir pra cama no mesmo dia saiu da ordem das coisas. Não que
pra fazer sexo eu esteja exigindo namoro, nada disso. Mas carinho,
toque, afeto prévios são partes fundamentais da decisão de ir ou
não para as quatro paredes. Embora, uma vez lá, não haja
necessidade de tanto romantismo. Continuo gostando de coisas mais,
poderíamos dizer, ardentes tanto como dantes.
Sinal dos tempos?
Duas coisinhas:
1. Os pega no tal sujeito dez anos mais velho envolveu uma questão
pessoal. Já tínhamos nos visto em outras situações mas ele nunca
pareceu aberto a uma investida. Como, quase sempre, só vou em alguém
quando tenho certeza nunca investi. Agora pareceu uma vitória
pessoal. Uma prova de que eu estaria supostamente mais desejável.
Pelo lado negativo poderia interpretar exatamente no sentido
contrário, ele é que estaria menos desejável e, por isso menos,
exigente (acho que vou voltar pra terapia).