Essa semana, lendo um dos meus blogs favoritos, vi um pito que o Tony Goes fez à Folha de São Paulo. Em defesa do jornal escrevi mais ou menos o que segue abaixo:
Vamos
se consigo ser sucinto. Assim como você também sou leitor da Folha
há muitos anos, desde quando ainda era um jovem “inconsequente”
até se tornado um “jovem adulto”. A leitura do seu post me
trouxe algumas lembranças.
Em
19 de junho de 2001, a Folha registrava em editorial: “Unir-se
a gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros na defesa de seus
direitos é bem mais do que defender direitos de grupos minoritários.
Trata-se de defender um pressuposto da democracia, que é promover a
igualdade na diversidade”.
Em
24 de junho de 2003, no mesmo espaço, também sobre a Parada, o
jornal registrava que: “O
sucesso da parada é também um motivo de satisfação para São
Paulo, que, ao abrigar uma manifestação dessa natureza, revela sua
vocação cosmopolita e mostra que boa parte de seus habitantes e de
sua opinião pública cultivam a tolerância, a qual constitui a base
mesma do bom convívio democrático...Até que vivamos em um mundo
melhor, onde a orientação sexual de um indivíduo será tão
irrelevante quanto seu gosto por alimentos, é preciso cultivar
diariamente a tolerância e o respeito pela diferença. É uma forma
de ampliar a democracia”.
Em
de agosto de 2003:
“Direitos
de gays podem e devem ser afirmados, porque o homossexual não é
fundamentalmente diferente do heterossexual e, ao Estado, não
interessam preferências sexuais. O católico segue livre para
exercer seu catolicismo, e os que não quiserem ouvir os ensinamentos
de Roma podem seguir outros caminhos”.
Provavelmente,
você deve ter lido todos esses editoriais, pra mim, foram
especialmente importantes porque estava passando ainda por uma fase
de descoberta, aquele período que você e outros fazem referência
no filme “Não
gosto de meninos”.
De modo que, ler esses textos ajudaram-me a me formar como “gente
esclarecida”,
digamos assim.
Talvez,
possamos dizer que aqueles eram outros tempos, tenho cá pra mim que
estamos numa época muito mais aborrecida e careta. Talvez, possamos
dizer ainda que a Folha não tenha os mesmos culhões dantes. Ainda
assim, o jornal continuaria registrando suas opiniões em momentos
decisivos, tais como o famigerado “Dia do Orgulho Hétero” e a
decisão do STF:
2011:“Ao
garantir direitos de casais e famílias de pessoas do mesmo sexo,
Supremo põe a lei brasileira em compasso com novos anseios
sociais...Uma democracia, para ser completa, precisa ter mecanismos
como esse para impedir que grupos sociais, mesmo que majoritários,
impeçam a garantia de direitos fundamentais de minorias”
2011:
“O prefeito Gilberto Kassab (PSD) acertou ao decidir vetar o
inoportuno projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal que
instituía o Dia do Orgulho Heterossexual na cidade de São Paulo. A
iniciativa denotava um inconformismo com a afirmação de direitos
dos homossexuais. Seu autor, vereador Carlos Apolinario (DEM-SP),
nega que o projeto estimule qualquer preconceito. Mas não oculta que
sua justificativa é o duvidoso
argumento
de que "a sociedade está acuada diante de tanto ativismo gay".
2010:
“Curiosamente, países onde se imagina ser mais forte do que aqui a
influência do clero -como Portugal, Espanha e a própria Argentina-
foram mais rápidos em aprovar o casamento homossexual do que uma
nação supostamente liberal em termos de costumes, como o Brasil. O
elogio da informalidade, a indiferença pelas formas jurídicas,
tantas vezes presentes nos discursos apologéticos sobre o país,
esconde aqui um lastro de timidez e subserviência ao preconceito que
cobra, de muitos casais de homens e mulheres, o preço de
dificuldades na vida prática e de uma semiclandestinidade no mundo
legal sem nenhuma justificativa, exceto o obscurantismo religioso”
Dado
esses registros, entendo sua reivindicação muito mais como uma
sugestão para um maior ativismo do jornal quanto ao assunto. Mas
sinceramente, sinto que esse ativismo não está presente nem mesmo
nos supostos meios gays. Não moro em SP mas acompanho atentamente as
movimentações e vejo como há uma insatisfação com os rumos da
Associação que comanda a Parada. As vezes, me pergunto, porque
você, o Marcelo Cia, que ultimamente tem falado muito em
representação política e mesmo sujeitos como o André Almada, o
Vítor, que são donos de estabelecimentos consolidados e que não me
parecem, pelo menos de longe, idiotas políticos não tomam a parada
para si.
Enfim,
dado o ativismo religioso que corre, me parece necessário inaugurar
ou ressuscitar um novo ativismo gay. O caminho não sei qual seria,
não sei se passa por mais ou menos radicalização, vejo iniciativas
isoladas como a versão brasileira do “It
Gets Better”,
aquela campanha “Eu
sou gay”,
o movimento pelo Casamento Igualitário, o PLC-122. Enfim, muita
coisa, mas tenho medo de que tudo isso acabe não dando em nada,
fique como apenas isso, iniciativas isoladas. Sei lá.