“Precisei de alguns minutos até absorver a notícia da morte do DANIEL PIZA e me manifestar a respeito. Fui editor assistente dele no caderno “Fim de Semana” da GZM entre 1997 e 2000, quando ele foi para o Estadão (continuei até novembro de 2001). Devo a ele a minha mudança de Belo Horizonte para São Paulo (algo que estava na minha lista de desejos para aquele ano). Ele me contratou no momento em que o “Fim de Semana” começava a adquirir um prestígio considerável no ambiente da cultura – Artes & Espetáculos, primeiramente, e depois a cultura em sentido amplo, com ensaios e reportagens também sobre ciência, tecnologia, esportes, design, arquitetura, urbanismo etc.
Em termos profissionais, foi o melhor chefe que tive: conhecedor, competente, operoso, visionário, profissional até a alma. Pegava no pesado, embora fosse extremamente vaidoso e auto-referente. Nesse ponto (e talvez por isso), a tolerância dele com a vaidade alheia me deixava impaciente, porque às vezes me sobrecarregava no fechamento das 14 páginas (que depois passaram a 24 na época em que o “Valor Econômico” foi lançado).
Incontestável, porém, a maneira suave e até bem-humorada com que ele lidava com os freqüentes “ataques de estrelismo” de vários membros auto-referentes da grande equipe, que tinha vários correspondentes, colunistas, repórteres, críticos, tradutores etc. E o Piza era um dos mais jovens daquele time supereficaz (graças a ele, com certeza). Compenetrado, escrevia a coluna “Sinopse” com rapidez e perspicácia impressionantes. Sabia desfrutar o que há de melhor no mundo da literatura e das artes visuais, principalmente, mas errava a mão com freqüência quando se metia em política e economia.
Um homem mais de gabinete que de rua, raramente sujava os sapatos, mas possuía uma antena de captação global sugando tudo o que acontecia de importante, e sendo capaz de digerir tudo aquilo com a velocidade de uma transmissão. Acho que, em qualquer carreira, os profissionais mais determinados e contínuos nunca são “indistintos” ou “incontroversos”. Ao contrário: são específicos e nada fáceis de definir. O que mais me choca nisso tudo, no entanto, é estarmos diante de uma partida tão precoce quanto ele próprio.”