Esse post não tem nada a ver com homossexualidade. Ao longo da vida vamos entrando em contanto pessoas que mudam nosso modo de ver as coisas, interpretar o mundo.São pessoas que por motivos diversos vão contribuindo para a formação de nossa personalidade. Isso acontece de tal modo que alguns acabam caindo na armadilha de se tornar não mais do que em um pastiche da personalidade admirada.
Paulo Francis e toda sua influência na imprensa brasileira é o caso que me vem a cabeça com mais frequência quando vejo certos jornalistas/blogueiros que sem a sua erudição procuram fazer a polêmica pela polêmica. Vá lá que PF tinha suas idiossincrasias, flertou com a irresponsabilidade algumas vezes mas era não um sujeito abjeto, definitivamente. Fez escola, pro bem e pro mal, cada qual que escolha o que vem a ser cada lado da moeda. Motivos por ora ocultados não me permitiram acompanhar e tornar-me um grande entusiasta do Francis. Na verdade, meus primeiros contatos com ele se deu através de alguns dos seus discípulos, foram mais de um mas, nesse momento, há um em particular a fazer referência.
Neste sábado (31/11/2011) fiquei sabendo da precoce morte do jornalista Daniel Piza. O jornalista que atualmente trabalhava no Estadão foi meu contemporâneo, pouco mais do que dez anos separavam nossas idades e me chocava, admirava e invejava como era ao mesmo tempo tão jovem e tão culto. Mas a regra básica ele sempre ensinara: ler, ler e ler.
Meu primeiro contato com sua obra se deu através do extinto suplemento cultural da Gazeta Mercantil, onde era colunista e editor. Eu era estagiário numa empresa e o dono da mesma assinante do jornal, naquela época, apesar de ser economista hoje, não tinha interesse nos demais cadernos, o que me interessava era o Fim de Semana. Durante muito tempo guardei alguns dos ensaios, reportagens do jornal, é provável que ainda tenha alguns por aqui pra dar veracidade aos fatos. Da Gazeta fui pra Bravo, depois Estadão e finalmente a internet, onde foi possível acompanhar a produção atual mas também tudo que já produzira antes.
João Pereira Coutinho, outro polemista, o definiu com um bom "personal trainer", segundo ele porque "prepara qualquer mortal para escrever ou pensar". Sem dúvida, essa foi sua maior contribuição na minha vida. DP me apresentou Sallinger, quando eu precisava lê-lo (junto com o Sérgio Augusto, é verdade), Gombrich e sua robusta "História da Arte" como um bom livro de iniciação, Clement Greenberg, Harold Bloom, me ensinou, enfim, a importância e o papel da crítica apesar de tantos ataques de quem é criticado.
Isso faz tempo, tanto tempo que o e-mail que usava para trocar alguma ideia com ele foi perdido. Mas ele sempre foi atencioso, respondendo-os quando assim lhe permitia, acho que na medida em que a internet foi se tornando popular e muita gente passou a escrevê-lo lhe faltou mais tempo para essa troca de correspondências. Mas sua erudição continuava a nos ensinar.
Em uma de suas colunas no Estadão me citou nominalmente, para um fã foi motivo de orgulho, estava lá em 15 de julho de 2001:
"Jornalistas"
Muitas cartas sobre o assunto da semana passada, inclusive de colegas. Nenhuma a favor dos jornalistas. Cristina Frias Monteiro diz que o jornalista brasileiro é "mal vivido e falso moralista", com visão maniqueísta da sociedade (e dá exemplo: "O fato de FHC não estar dando certo não qualifica Lula para a presidência"). Ricardo Topalian reclama das matérias de esporte, que parecem feitas "por crianças recém-alfabetizadas".
Herberth Lima toca no ponto crucial: "Os jornalistas não lêem." Fernando Dourado reclama da previsibilidade dos articulistas, divididos entre a frivolidade ("um arrazoado de platitudes sem tempero") e a afetação ("a indignação que leva à verborragia"). E Maria Elisa Bittencourt diz que decidiu ler os jornais apenas aos domingos e a revista The Economist, "que sempre trata de questões relevantes, sem fofocas, sem manchetes retumbantes, sem leviandades"
Um dia sonhei em me tornar milionário e reunir alguns bons jornalistas para fazer uma revista que seguisse uma regra citada por DP mas ensinada por Décio de Almeida Prado:
"Não exigiremos que ninguém desça até se pôr à altura do chamado leitor comum, eufemismo que esconde geralmente a pessoa sem interesse real pela arte e pelo pensamento. (...) Uma publicação que se intitula literária nunca poderia transigir com a preguiça mental, com a incapacidade de pensar, devendo partir do princípio de que não há vida intelectual sem um mínimo de esforço e disciplina."
É preciso dizer quem seria o editor-chefe?
Muitas lágrimas.