Carta a
um amor que não vem
Disseram-me que cerdo ou tarde, você virá. Nunca fui de dar
crédito as palavras alheias. Nada sei, mas sei que eles, também,
nada sabem. Fui por aí, por tanto caminhos.
Cansei, parei, voltei.
Algumas vezes, só algumas mesmo, parecia que era você. Mas o tempo,
mais sábio que todos os doutores do saber, mostrou meu engano.
Outras tantas, essas muitas, assim, de longe, pensava: “é ele”,
estava ali todas as coisas que imaginara que você deveria trazer
consigo. Tantos erros. Ele, que não era você, e exatamente por
isso, nem me notara.
Crer não é o meu forte mas prefiro acreditar
que você, assim como eu, ao tentar encontrar atalhos para chegar até
aqui, perdeu-se no caminho. Ah, quantos desvios somos obrigados a dar
para voltar a estrada certa e mesmo quando voltamos à ela trata-se
de uma reta que apesar dos quilômetros rodados não parece nos levar
a nada.
Mas enquanto isso vamos nos divertindo. Quem disse que
caminhar só é sempre ruim? Sigo assim, encantando-me com outros
afetos. Mas, sempre, sempre, tem a hora de pensar na sua chegada. Às
vezes, preparo-me, uso a fantasia da esperança e saio por aí em sua
busca. A música que você gosta, a bebida que você toma, a película
que te apetece. Sempre espero que você esteja lá. Mais erros.
Retorno. Paro. Continuo...
Retorno. Paro. Continuo...
Talvez você esteja se perguntando porque vai tudo isso aqui.
Talvez fosse melhor ficar sem resposta. Talvez fosse melhor deixar
você encontrar as razões. Mas tenho algo mais a dizer. Isso é a
única coisa de mim que posso deixar para ti, afinal chegaste tarde
demais. Já fui.